Capítulo 1
Finalmente, o majestoso castelo medieval estava cercado. As tropas aguardavam ansiosamente para invadi-lo, e aguardavam a autorização para colocar fogo no castelo, e matar o rei do reino inimigo, junto com todos os seus familiares. Flávio, o chefe das tropas, aceitou o conselho do príncipe de Whaterford, Bernardo, a invadir o castelo apenas quando amanhecesse, pois assim ficaria mais fácil de aniquilar a família real por completo. Então, centenas de guerreiros esperavam pacientemente o amanhecer, comemorando a vitória na guerra. Depois de anos de rivalidade, finalmente haviam conseguido dominar Bridweel, com um massacre imenso de soldados e da população.
As ruas do reino de Bridweell estavam manchadas de sangue, por todos os lados. Não era costume do o rei Roberto ordenar um massacre tão grande. Geralmente, ele gostava de usar a população dominada como escravos. Mas havia seis anos que aquele conflito se estendia, e as eventualidades geraram no rei um ódio tão grande, que ele decidira que as pessoas daquele reino desprezível não eram dignas de confiança suficiente para serem escravas. Então, movido pela raiva, ordenou que nenhum cidadão de Bridweell sobrevivesse, e jurou que toda a família real teria uma morte dolorosa e violenta. Mandou tantos guerreiros para invadir o reino, que mal se podia contar, e com certa facilidade, Whaterford vencera a guerra.
Os guerreiros do reino de Whaterford estavam espalhados pela cidade, colocando fogo nas casas, matando impiedosamente homens, mulheres e crianças, e saqueando seus objetos de valor. Era o fim de Bridweell, e ao que tudo indicava, ninguém conseguiria sobreviver.
Dentro do luxuoso castelo, que tantas vezes fora cenário de acontecimentos tão alegres e agradáveis, pairava o mais horrível e desesperador medo. A família real aguardava a morte, que eles sabiam que chegaria em breve. Da torre mais alta, o rei Antônio observou mais uma vez o cenário angustiante de sua cidade, que em pouco tempo se transformaria em destroços sem vida. Havia lágrimas em seus olhos, mas seu olhar continuava frio. Era o fim, e ele estava destinado a ter uma morte violenta e agonizante, mas naquele momento, ele não estava pensando nisso. Estava pensando na sua única filha, tão linda e jovem, e desejando que ela não tivesse um fim tão horrível como seria o dele.
O Rei Antônio também temia pela segurança de sua esposa e de seus dois filhos, os príncipes Victor e Alessandro, que tinham 27 e 32 anos, respectivamente. Ambos haviam saído de casa há vários dias, a fim de comandar o exército de Bridweell e organizar a defesa da cidade. Pelo visto, não haviam sido bem sucedidos nessas tarefas, e o rei Antônio tinha quase certeza de que estavam mortos.
Quanto à sua linda filha, a princesa Cristiana, o rei sentia um grande remorso. Aos dezessete anos de idade, ele estava organizando para a menina um casamento com o mais rico burguês da cidade. Claramente, Cristiana se opunha ao casamento, alegando diversas vezes que não amava o tal senhor. O Rei Antônio, porém, não dava ouvido ás queixas de sua filha e a ameaçava constantemente para que aceitasse o casamento e que tratasse bem seu futuro marido. Mas agora, ele via que todas as brigas foram em vão, e que sua filha morreria antes de sequer experimentar seu vestido de noiva. Apesar de ter uma relação um pouco conturbada com a filha, Antônio a amava muito, e tinha Cristiana como seu maior tesouro, e como a coisa mais importante de sua vida. Ele sabia que a filha morreria em breve, e não havia o que fazer contra isso. Ele não podia impedir a morte da filha, mas podia ao menos, fazê-la não sentir dor. Então ele teve uma ideia para que ela tivesse uma morte tranquila.
- Papai! – chamou a princesa, deixando transparecer todo o medo que sentia apenas com seu olhar. - O senhor não devia ficar aqui, isolado, olhando nossa cidade se tornar ruínas. - A rainha Sílvia, que segurava a mão da filha, completou: - Esta é a última noite de nossas vidas. Não adiantará absolutamente nada ficar lamentando o fim de Bridweell.
- Como não lamentar, querida? Tínhamos tantos planos pela frente, tantos projetos a serem realizados... Agora, tudo se foi. Só o que temos a fazer é sentar e aguardar pela morte.
Cristiana e sua mãe nada falaram. Afinal, o rei tinha razão. Antônio continuou: -
- Aqueles animais vão nos matar no modo mais doloroso e violento que puderem. – disse ele, com a expressão amargurada. Só depois percebeu que estava assustando sua filha e tornando pior o momento mais agonizante de suas vidas.
- Me desculpem. Estou muito abalado com tudo isso. Não dá pra suportar uma situação dessas. Vamos acabar com essa aflição agora. – Ele procurou em uma das gavetas do antigo móvel de madeira, e mostrou a elas um frasco de vidro, contendo um líquido que a princesa e a rainha não souberam distinguir.
Embora não soubesse que líquido era aquele, Cristiana, pela lógica, tirou suas conclusões:
- Está sugerindo nosso suicídio? - perguntou ela, supondo que aquele frasco contivesse veneno. O pai, sobressaltado com a pergunta da menina, respondeu imediatamente: - É claro que não, minha filha. Os suicidas não herdarão o reino dos céus, lembre-se disso. – Então o que está nos propondo com esse frasco, querido? – perguntou Sílvia. – Vamos nos despedir uns dos outros, e dormir. Vamos dormir tranquilamente, esquecer de todos os problemas. Assim não veremos nossa morte, e tampouco sentiremos medo, ou dor. Isto é um sonífero poderoso, o efeito tem uma duração breve, mas o suficiente para durar até a hora em que eles invadirão o castelo. Ficaremos em um sono tão profundo que nem sequer saberemos a hora da nossa morte. – um silêncio perturbador tomou conta do lugar, e todos ali se deram conta de que aquela era a melhor coisa a fazer. Todos sentiam medo, tristeza, e aflição, mas sabiam que esses sentimentos desapareceriam em breve.
Chorando, a princesa Cristiana se despediu para sempre de sua mãe, e foi com seu pai até seu quarto, que ficava situado em uma torre alta do castelo. A mãe de Cristiana havia decidido não acompanhá-la até o quarto, pois sabia que não suportaria a dor de ver a filha fechar os olhos para sempre. O rei Antônio olhava sua adorável filha levantar suavemente a enorme saia rodada do vestido para não tropeçar nas escadarias.
Era uma princesa tão linda, tão delicada e tão graciosa que ele não podia, e não queria imaginá-la morrendo. Subiram as escadarias em silêncio, e Antônio percebeu que sua filha tentava ao máximo conter as lágrimas, para não deixá-lo mais triste ainda. Finalmente chegaram ao luxuoso quarto de Cristiana. Era um quarto muito bem decorado, e Cristiana deitou-se em sua cama, sem se preocupar como fato de que suas roupas não eram nada confortáveis para se dormir. Ela não trocou o vestido com uma grande armação na saia, nem tirou suas jóias, afinal, não fazia nenhuma diferença.
O rei Antônio sentou-se ao lado da filha, na cama. A menina olhou para ele com um olhar intenso e afetuoso, mas não soube o que dizer.
– Minha filha. Como eu queria que você não tivesse que passar por isto. Como eu queria ter te feito feliz, em vez de ter perdido tanto tempo te obrigando a fazer coisas que você não queria. Como eu queria ter passado mais tempo com você, ter te demonstrado mais o meu amor. Como eu queria ter sido um pai melhor para você.
– Por favor, papai. Não seja injusto consigo mesmo. Você me fez mais feliz do que eu poderia dizer. E o que importa na vida não é o tempo que ela dura, e sim, a intensidade com que ela é vivida. E ao seu lado, todos os dezessete anos que eu vivi foram simplesmente maravilhosos. Eu te amo muito, papai. – disse ela, sorrindo.
– Eu também te amo, minha filha. Mais do que você pode imaginar. – disse ele, abraçando a filha, e nenhum dos dois conseguiram conter as lágrimas. Era um momento triste, e ao mesmo tempo, tão bonito e sincero. Sem mais nada dizer, o rei deu á filha o frasco, e ela tomou um gole do líquido, deixando o suficiente para Antônio e Sílvia. Antônio guardou o frasco em suas roupas, e observou Cristiana. A menina ainda ouviu o pai recitar um versículo da Bíblia, que falava sobre a pacífica vida após a morte que Deus lhes prometera. E então fechou seus olhos, para nunca mais abri-los.
O rei Antônio ficou alguns segundos na cama, chorando e observando o quanto sua filha era linda, e no quanto parecia frágil, em seu leito de morte. Ele acariciou os cabelos longos da menina, beijou a testa dela e saiu do quarto, trancando a porta em seguida. Depois foi se encontrar com sua esposa, para morrerem juntos.
Capítulo 2
O sol nasceu, mas apenas alguns raios de luz atingiram Bridweell. O céu estava coberto por nuvens acinzentadas, o que resultava em um dia nublado e frio, como se o próprio tempo lamentasse a queda de Bridweell. Em vez de renovar os ânimos, a luz do dia servia apenas para deixar mais evidente o desolamento da pequena cidade destruída e arruinada.
Bernardo e Flávio combinavam os últimos detalhes da invasão ao castelo, e quando as tropas estavam finalmente organizadas, Bernardo autorizou a invasão:
- Matem todos e não deixem ninguém escapar! Cumpram a todo o custo a promessa que fizemos ao rei Roberto, por Whaterford!
Com um grito ensurdecedor de todos os guerreiros, eles invadiram o castelo, deixando um rastro de destruição e sangue por onde passavam.
Em alguns minutos, todos os criados e trabalhadores do rei que tentavam se esconder nas masmorras do castelo estavam mortos, e todos os objetos valiosos que se pudesse encontrar eram furtados pelos guerreiros de Whaterford.
Flávio, chefiando as tropas, procurou e depois de muitos minutos achou o aposento do rei e da rainha de Bridweell.
- Agora, a guerra está oficialmente vencida. - disse ele para Bernardo, e os dois sorriam, satisfeitos com a vitória. - Você não acreditará, Alteza, na atitude covarde do rei e sua esposa.
- Do que está falando? - perguntou Bernardo.
- Eles tomaram sonífero, para não sentirem dor na hora de suas mortes.
- Ah, Flávio. Isso é comum, já aconteceu outras vezes nas guerras em que já participei. Isso quando os inimigos não se suicidam. O que importa é que estão mortos, certo?
- Certo.
- Há mais alguém da família real vivo? - perguntou Bernardo.
- Não sei. - provavelmente a filha deles deve estar por aí, escondida em algum quarto de alguma das torres. Esse castelo é grande demais, ainda não a encontramos. Mas acho que podemos deixar isso pra lá, afinal, vamos incendiar tudo. Que chances tem uma menina de sobreviver sozinha em meio á um castelo pegando fogo?
- Quase nenhuma. - respondeu Bernardo, friamente.
Os guerreiros faziam uma festa de destruição no castelo, e Bernardo notou uma escadaria estreita e isolada em algum canto da imensa construção. Ele subiu a escada, sozinho, e se infiltrou por um dos corredores isolados e silenciosos da torre.
Bernardo andava pela parte mais silenciosa e escondida do castelo, abrindo porta por porta do corredor. Porém, se deteve em frente á única porta trancada daquele lugar e então teve certeza de que lá estava a última pessoa viva da família real de Bridweell.
Bernardo sorriu, enquanto arrombava a porta. A promessa seria cumprida com precisão, ou pelo menos, era isso que ele pensava. Ele entrou no quarto imenso, andando com calma até parar em frente á cama onde Cristiana dormia tranquilamente.
Mas quando ele olhou aquela menina e observou minuciosamente cada um dos traços delicados do rosto dela, chegou rapidamente á conclusão de que aquela era a garota mais linda que ele já havia visto. Bernardo sacudiu a cabeça, tentando reorganizar suas ideias. Como assim, uma pessoa que ele nunca havia visto antes, e aliás,a pessoa que ele tinha o dever de matar, poderia mexer tão forte com os sentimentos dele, ao ponto dele não conseguir dominá-los?
- Concentração. - murmurou ele para si mesmo, pensando em voz alta. - Por Deus, eu devo estar ficando louco. Isso não pode estar acontecendo. Eu preciso matar essa garota, e acabou. É, eu preciso. Como diria meu pai, quem controla os nossos sentimentos somos nós.
Ele olhou novamente para Cristiana, e concluiu rapidamente que seu pai estava muito enganado. Naquele momento, ele não podia controlar o que sentia. Pela primeira vez, sentiu-se completamente incapaz de fazer mal á ela. Era impossível fazer qualquer coisa contra ela, olhando para aquele rostinho inocente.
- Se é pecado tocar em algo sagrado... - sussurrou para si mesmo - Que Deus me perdoe.
Ele tocou o rosto de Cristiana, como se quisesse ter certeza de que ela era real.
O toque de Bernardo, por mais leve que tenha sido, fez com que Cristiana acordasse assustada. O efeito do sonífero havia passado completamente, e ao observar o intruso que estava em seu quarto, Cristiana gritou, e se afastou dele, pulando da cama.
- Calma. Não precisa se assustar. - disse Bernardo, rindo do jeito como ela pulou da cama.
Cristiana recompôs a expressão rapidamente, e continuou olhando para ele, confusa. Não se parecia muito com o que ela tinha imaginado. Ela sabia que aquele estranho era o responsável por matá-la, mas não foi isso o que mais chamou a atenção dela.
Desde pequena, Cristiana imaginava que os guerreiros de Whaterford eram velhos, barbudos, feios e com dentes horríveis. E era essa a imagem que ela tinha do homem que iria matá-la. Mas olhando para aquele garoto na frente dela, Cristiana se surpreendeu. Primeiro, porque ele parecia ter quase a idade dela, talvez fosse um ou dois anos mais velho. E depois, porque ele era exageradamente lindo. Não era nada do que ela esperava.
"Eu não acredito, esse cara vai me matar e eu estou reparando no quanto ele é lindo. Isso é ridículo." pensou ela, enquanto procurava fazer a sua melhor cara de desprezo para ele.
- Então... Você está aqui para me matar, não é? - disse Cristiana, em um tom surpreendentemente calmo e indiferente.
- Bem... Teoricamente sim. - respondeu Bernardo.
- Então ande logo com isso. Tá esperando o quê?
Bernardo não disfarçou o quanto estava surpreso com a reação daquela garota. Em uma situação como estas, ela deveria estar, no mínimo, com medo. Mas não estava. Ou pelo menos, não transparecia isso.
- Você não está com medo? - Bernardo perguntou, se achando um bobo por estar fazendo aquela pergunta. Mas ele não se conformava em como uma garota que pensava estar á beira da morte poderia falar daquele jeito, e naquele tom de desprezo.
- Medo de quê? De um moleque magrelo metido a guerreiro?
Bernardo riu, impressionado. Até o momento, ninguém nunca tivera coragem de falar com ele daquele jeito.
- Na verdade, senhorita... Você está falando com o príncipe Bernardo, filho do respeitado rei Paulo Roberto, de Whaterford.
- Você fala como se fosse um orgulho ser filho daquela víbora que é o seu pai. Provavelmente, por que você deve ser idêntico a ele.
- Como você é destemida, princesa. Sabe que qualquer outra garota nesta mesma situação estaria chorando e implorando de joelhos, para que eu a deixasse viver?
- Pois fique sabendo, Bernardo - Cristiana fez questão de pronunciar o nome dele com o máximo de desdém que pôde - Que eu só me ajoelho diante de quem merece o meu respeito. O que com certeza, não é o seu caso.
Diante de tantos insultos, Bernardo deveria ficar nervoso. Mas surpreendentemente, não ficou. As garotas que Bernardo conhecia eram superficiais e sem personalidade, mas aquela garota era muito diferente. Especial. Ele estava impressionado com a personalidade
forte e decidida daquela princesa que parecia ser tão frágil e indefesa.
- Você era muito mais simpática dormindo, sabia? - brincou ele, sorrindo. Cristiana revirou os olhos, irritada.
Ao ver a expressão irritada de Cristiana, Bernardo amenizou um pouco:
- É só uma brincadeira, princesa. Aliás, posso saber qual é o seu nome?
Cristiana continuou com seu tom de desprezo.
- Qual é o seu problema, garoto? Você vai me matar de qualquer jeito, não importa o meu nome. Já matou minha família, meus amigos, meus pais. Então para com essa conversinha e faz logo o que tem que fazer.
Bernardo olhou para ela, e desta vez ele estava sério. Podia sentir o rancor naquelas palavras, e era um rancor bastante compreensível.
- Na verdade... - ele começou a falar - não fui eu, exatamente, quem matou seus pais. E eu entendo o que está sentindo agora, princesa.
- Não. Você não entende. Nunca vai entender, Bernardo. - Cristiana quis chorar, mas se conteve. Precisava ser forte naquele momento.
Eles ficaram em silêncio. Um longo silêncio, até que Cristiana disse, por fim:
- Acho melhor eu sentar, porque do jeito que você é lerdo, eu vou acabar morrendo de morte natural, daqui a uns 70 anos, antes que você resolva me matar.
Bernardo riu.
- Até que não seria uma má ideia.
Cristiana franziu as sobrancelhas.
- Do que você está falando?- ela perguntou, um pouco confusa, sem querer acreditar na insinuação de Bernardo.
Bernardo sabia que nunca poderia fazer mal àquela garota. Também sabia que era dever dele matá-la, mas ele já havia tomado a sua decisão de não obedecer á essa ordem.
Antes que ele pudesse dizer isso à Cristiana, alguém entrou no quarto.
Um homem barbudo de aproximadamente quarenta anos entrou no quarto. Cristiana e Bernardo voltaram sua atenção para aquela figura. Cristiana se perguntava quem era ele, enquanto Bernardo se perguntava o que ele estava fazendo ali.
Bernardo conhecia aquele homem. Aquele era Frederico, um dos guerreiros de maior confiança do rei Paulo Roberto, e com quem Bernardo nunca se simpatizou.
- Ora, ora, alteza. Estou interrompendo alguma coisa? - disse ele, com um olhar desconfiado.
- Vá embora, Frederico.
- Não quero ser inconveniente - disse Frederico - Mas me mandaram aqui para procurá-lo, alteza. Caso não saiba, estão incendiando o castelo. Não seria muito agradável para você ficar preso em um castelo em chamas. Mas me parece que você está em boa companhia. - ele olhou para Cristiana, dos pés á cabeça. E então sorriu.
- Esta é, suponho, a filha do rei Antônio. A última sobrevivente de Bridweell é realmente uma beleza. - retrucou ele.
- Já te mandei ir embora. Obedeça! - disse Bernardo, entredentes, irritado com o sorriso petulante no rosto do seu subordinado.
Frederico ignorou a ordem de Bernardo e continuou:
- Meu caro príncipe, não entendo a sua irritação. - disse ele, com muita falsidade na voz. - Ou melhor, entendo sim. Você ia se divertir muito com essa gracinha e agora não quer dividir esse tesouro. Que coisa feia. Onde está sua generosidade, alteza? - corrigiu Frederico, com um sorriso atrevido, enquanto olhava para Cristiana de um modo que a deixou assustada.
- Não teste a minha paciência, Frederico. As consequências podem ser desastrosas.
- Não há motivos para me ameaçar, alteza. Afinal, nós dois sabemos o que você planejava com essa garota. Agora que estou aqui, podemos dividi-la. Você se diverte primeiro, e depois é a minha vez. Nada mais justo.
Cristiana olhou para Bernardo completamente horrorizada. Era a primeira vez que Bernardo conseguiu ver medo no olhar dela.
- Como você é ridículo, Frederico. Você tem mulher e filhos te esperando em Whaterford.
- Bernardo, Bernardo. Você é tão jovem, ainda tem muito o que aprender. Vou te contar um segredinho: nenhum homem é totalmente fiel á sua esposa. Um exemplo disso é o seu pai. Você, como o garoto esperto que é, já deve saber que ele vive fornicando com as criadas do castelo. - argumentou Frederico, com um sorriso de vitória.
- E então, gracinha? - ele olhou para Cristiana, sorrindo maliciosamente - Você vai tirar esse vestidinho ou prefere que eu o arranque?
Bernardo se colocou na frente de Cristiana, protegendo-a.
- Só por cima do meu cadáver.
- Isso não vai ser difícil.
- Isso é o que nós vamos ver. - disse Bernardo, enquanto apontava sua espada para Frederico. Ele se afastou alguns centímetros de Bernardo e também apontou sua espada para ele.
- Me surpreende que a sua espada ainda não tenha enferrujado, Bernardo. Você é só um garoto. Não faz a mínima ideia de como usar armas.
Cristiana ouviu o som metálico de uma espada se chocando contra outra, assustada. Ela não estava acreditando no que estava acontecendo naquele momento. O príncipe de Whaterford, que tinha o dever de matá-la, estava lutando com seu próprio companheiro de batalha só para protegê-la? Cristiana estava completamente surpresa com isso.
- Seu pai vai ficar muito decepcionado com você, Bernardo. - disse Frederico, enquanto desviava de um golpe. - Você prometeu á vossa majestade que não iria deixar absolutamente nenhuma pessoa de Bridweell viva. E agora, se apaixona pela filha do rei Antônio e, como se não bastasse, decide lutar contra o seu próprio companheiro de guerra, que já te ajudou tantas vezes, só por causa dessa garota.
A última frase dita por Frederico chamou a atenção de Cristiana. Ela queria acreditar que aquilo era verdade, mas era bem difícil. Talvez aquela situação não indicasse, exatamente, que Bernardo estivesse mesmo apaixonado por ela. Cristiana não gostava de criar expectativas, mesmo que fosse inevitável fazer isso.
- É imperdoável o que você está fazendo, Bernardo. - continuou Frederico, durante a luta. - Vai ser acusado de traição. E você sabe qual é a punição que recebem os traidores em Whaterford.
Ele se esquivou de outro golpe, e então disse, em um tom mais alto:
- Seu próprio pai vai ordenar a sua morte!
Bernardo sabia que aquilo poderia mesmo acontecer. Mas naquele momento, ele não estava muito preocupado com aquilo.
- Por sorte, Bernardo... - Frederico retomou seu discurso, e Bernardo se irritou em como ele conseguia falar tão despreocupadamente e lutar tão bem ao mesmo tempo. - Seu pai não precisará se dar ao trabalho de matar você. Vou fazer isso antes dele. Você sabe, eu sou praticamente o braço direito do seu pai. O guerreiro em quem ele mais confia. Se o único herdeiro do rei morrer, obviamente, é a mim que ele vai escolher para assumir o trono. Eu serei o futuro rei de Whaterford, graças à você!
- Você é completamente maluco. Meu pai nunca deixaria o reino nas suas mãos. - disse Bernardo, enquanto defendia um golpe de Frederico.
- É aí que você se engana. Por que motivo o rei não daria o trono ao honesto e corajoso homem que fez de tudo para salvar seu filho de um castelo em chamas?
Cristiana olhava a luta e escutava a conversa dos dois, assustada. Quanto tempo aquilo iria durar?
Frederico bateu sua espada com força contra a de Bernardo, o que fez com que a espada de Bernardo voasse até o canto oposto do quarto. Cristiana gelou com o sorriso vitorioso de Frederico.
- Eu te avisei que nunca perderia uma luta para um garoto inexperiente como você. É nisso que dá querer ser um herói. Ela vai morrer, assim como você. E não há nada que você possa fazer contra isso. Bem, eu poderia cortar a sua cabeça fora, mas como sou um homem bom e honrado, vou te provar que não preciso de nenhuma arma para vencer você.
Frederico jogou sua espada no chão, ao lado da de Bernardo, e Cristiana observou atentamente aquela cena. Ela notou que Bernardo estava perigosamente perto da enorme janela do seu quarto, e percebeu que a pretensão de Frederico era jogá-lo de lá.
- Cuidado, Bernardo! - ela gritou, no momento em que Frederico se lançou contra Bernardo. Cristiana teve medo de ver aquela cena e fechou os olhos durante dois segundos. Quando abriu os olhos novamente, seu coração quase saiu pela boca. Os dois, Frederico e Bernardo, haviam caído pela janela de uma das torres mais altas do castelo.
Cristiana correu desesperadamente até a janela e se deparou com uma cena bastante tensa: Bernardo estava se segurando no peitoral da janela com as duas mãos, e Frederico estava se segurando no pé esquerdo dele, ambos prestes a cair de uma altura vertiginosa.
- Esta seria uma boa hora pra você ajudar, não acha? - resmungou Bernardo, meio segundo antes de Cristiana segurar a mão dele. Ela respirou fundo e tentou puxá-lo de volta, mas não era assim tão fácil, justamente por que ela estava puxando dois homens para dentro do quarto.
Cristiana não tinha certeza se iria conseguir ajudá-los, mas estava dando o máximo de si para conseguir fazer isso. Mas enquanto ela tentava puxá-los para dentro do quarto, Frederico tinha certeza de que ele iria cair em breve, e que Cristiana só iria conseguir salvar o Bernardo. Não bastasse estar segurando um peso muito maior do que o do seu próprio corpo, Cristiana ainda observou assustada, Frederico pegar um punhal para tentar matar Bernardo antes que caísse.
- Frederico, por tudo que há de mais sagrado, não faça isso! - pediu Cristiana, e só aí Bernardo percebeu o que estava acontecendo.
- Se eu morrer, você vai também, Bernardo.
Quase por impulso, Bernardo o chutou, e Frederico caiu dezenas de metros, em uma queda fatal.
Cristiana viu aquela cena assustada, mas manteve a concentração e com algum esforço, conseguiu puxar Bernardo para dentro do quarto.
- Tá bom, você não é tão magrelo assim. - disse ela, ofegante.
- Como conseguiu me puxar?
- Não faço ideia. Adrenalina, talvez.
Bernardo e Cristiana ficaram alguns segundos em silêncio, olhando um para o outro, extasiados.
- Posso saber seu nome agora?- perguntou Bernardo, com um pequeno sorriso.
- Cristiana.
Capítulo 3
Aquele era, sem dúvida, um momento incomum. Milhares de pensamentos permeavam as mentes de Bernardo e Cristiana. Da mesma forma que Bernardo havia defendido Cristiana com a própria vida, ela havia retribuído ajudando-o a sair daquela situação nada segura.
Cristiana achava que, naturalmente, deveria odiar Bernardo. Afinal, Bernardo era um dos principais responsáveis pela morte de seus pais, sua família, seus amigos, e simplesmente, destruir a cidade que Cristiana tanto amava. Queria sentir por ele o mesmo ódio que sentira há alguns minutos atrás, antes de Frederico ter entrado naquele quarto. Mas era simplesmente impossível odiá-lo. No lugar daquele ódio, ela sentia agora uma profunda admiração, e Cristiana teve um pouco de medo de um novo sentimento que poderia estar nascendo nela, quando olhava no fundo dos olhos castanhos de Bernardo.
Bernardo poderia passar minutos intermináveis olhando com absoluto encanto para Cristiana, mas o cheiro de fumaça que se infiltrou pelo quarto ajudou-o a se focar no que eles iriam fazer naquela situação.
- Ah, droga. Estão incendiando o castelo, eu havia esquecido. Preciso arrumar um jeito de tirar você daqui logo, princesa.
Desta vez, Cristiana não teve medo de olhar no fundo dos olhos dele.
- Por que está fazendo isso, Bernardo?
- Isso o quê?
- Você tinha que me matar. Mas... preferiu lutar contra o seu próprio companheiro de batalha para me defender. Por quê? – perguntou ela, franzindo as sobrancelhas de um jeito que Bernardo achou adorável.
- Bem... Eu não sei ao certo. Da mesma forma que não entendo porque raios você impediu que eu caísse junto com o Frederico. Pensei que me odiasse. E com certeza, você tem todos os motivos para me odiar.
Cristiana corou antes de responder:
- Talvez eu tenha. Mas não consigo te odiar.
- Er... Bem, é melhor acharmos um jeito de sair daqui antes que viremos churrasco. - disse Bernardo, sorrindo.
- Peraí. Acho que ainda não entendi direito.Você está pensando em...
- Eu não estou pensando em nada. Já decidi. Você vem comigo e vamos achar um jeito de manter você a salvo. - interrompeu ele.
- Mas... Você não pode fazer isso. Todos aqueles guerreiros lá embaixo sabem que eu deveria estar morta. Se descobrirem que você não cumpriu sua promessa com o rei, vão matar nós dois.
- Já falei, vamos achar um jeito. - Bernardo ficou com uma expressão pensativa. - Precisamos arrumar um jeito de você ir comigo para outra cidade sem que eles saibam que você está lá.
- Que cidade?
- Whaterford. Não, pensando bem, pode ser muito perigoso pra você ir pra lá. Talvez se...
Resolvido. Vamos fazer o seguinte, princesa: Ao voltar para Whaterford, vamos passar por Murivahe. Acho que lá você ficará em segurança.
- Tudo bem, mas como vamos chegar nessa tal cidade sem que ninguém saiba que eu estou viva?
- Um momento. - Bernardo foi até o corredor do castelo, que por sorte, ainda não havia sido atingido pelo fogo. Ele voltou trazendo uma armadura de ferro, que servia de artigo decorativo para o corredor.
- Bernardo, francamente, isso não é hora para roubar os artigos decorativos do meu pai.
Ele riu, e colocou a armadura metálica no chão.
- Cristiana, isto aqui vai ser o seu disfarce para chegar discretamente até Murivahe.
- Você não acha mesmo que eu vou...
- É claro que vai. Murivahe fica apenas a duas horas de distância daqui, você só precisa vestir essa armadura, se misturar as outros guerreiros lá embaixo e ninguém vai saber que você está lá.
- Que plano brilhante. - disse ela, irônica.
Bernardo foi até o guarda roupa dela, e começou a procurar alguma coisa.
- Você não tem nenhuma roupa de gente normal, não? - perguntou ele, enquanto só conseguia achar vestidos chamativos e com saias imensas.
Cristiana revirou os olhos.
- EU escolho as roupas que vou levar.
- Você não está indo passar férias no reino vizinho, princesa. É uma fugitiva. - disse Bernardo, enquanto continua revirando as coisas dela.
- Até que enfim achei uma coisa mais normal. - ele entregou um vestido simples para Cristiana, e ela fez questão de fazer cara feia. Não queria ser uma fugitiva, mas naquele ponto da situação, ela não tinha escolha.
- Eu não vou conseguir nem andar com isso, Bernardo. Essa armadura pesa quilos! - reclamou Cristiana, e sua voz saiu abafada pelo metal da armadura que ela estava vestindo.
- Ah, vai sim. Tenho certeza que vai dar um jeito. - Bernardo riu. - Mas precisamos sair daqui o quanto antes.
- Ah, se minha mãe estivesse viva para ver essa cena, ela teria tanto desgosto... - disse Cristiana, se olhando no espelho. - E francamente, esses guerreiros têm que ser muito idiotas para me confundirem com um colega de batalha. Eu, sem dúvida, não estou parecendo um guerreiro.
- Quanto pessimismo, só estou tentando ajudar! Tem uma ideia melhor?
Cristiana ficou em silêncio por dentro daquela armadura enorme, quente e desconfortável. E o vestido que ela estava usando por debaixo daquela armadura também não era muito confortável.
- Desculpa. - disse ela, contrariada.
- Tudo bem, Cris. Vamos logo, e o mais rápido possível. Tomara que a saída do castelo não esteja em chamas.
- Vamos. - Cristiana demorou cinco segundos para dar seu primeiro passo, tentando se equilibrar embaixo de tanto ferro.
Bernardo começou a rir daquela cena, o que deixou Cristiana muito irritada.
- Já terminou? - perguntou ela, quando finalmente a crise de riso de Bernardo parecia estar acabando.
- Desculpe, você não faz ideia do quanto está engraçada tentando andar com isto. É melhor você tirar essa armadura por enquanto, quando a gente conseguir sair do castelo você coloca de novo, porque senão só vamos conseguir sair daqui na próxima década.
- Ha. Ha. Hilário. - disse ela, irônica, enquanto tentava tirar a armadura.
Bernardo a ajudou a tirar a armadura, e Cristiana se sentiu imensamente mais leve sem ela, apenas com o seu vestido longo e apertado.
Finalmente conseguiram sair do quarto, e Bernardo foi na frente levando a armadura que serviria de disfarce para ela dali a alguns minutos.
Bernardo e Cristiana desceram as escadarias da torre correndo, e a fumaça parecia deixar tudo mais escuro.
- Tem certeza que estamos indo pra saída? - perguntou Bernardo.
- Claro, conheço este castelo como a palma da minha mão.
A fumaça ficava cada vez mais densa, e quando eles estavam perto da saída, perceberam que jamais iriam conseguir sair por ali. O fogo se alastrava pela sala principal do castelo,bloqueando a saída, e não havia o mínimo sinal de vida ali, além deles.
- Droga. Estamos presos aqui. - disse Cristiana, assustada com a velocidade que o fogo se alastrava.
- Tem que ter outra saída.
- Esta é a única saída, Bernardo.
- Não. Vamos arrumar um jeito de sair daqui. Vem comigo.
Cristiana seguiu Bernardo pelas escadas que levavam ao segundo andar do castelo, com alguma dificuldade para respirar, em meio á tanta fumaça.
Bernardo entrou em um dos vários quartos e olhou pela janela. Havia uma altura considerável entre eles e a grama verde do jardim.
- Vamos ter que sair por aqui, Cristiana. - disse Bernardo, apontando para a janela.
Em resposta, Cristiana arregalou os olhos, assustada.
- Calma, Cris. - ele sorriu. - Tivemos sorte. Dá uma olhada nesta árvore.
Cristiana olhou para a enorme árvore que, de tão alta, alcançava a janela do segundo andar do castelo.
- É só nós descermos pela árvore e vamos chegar no chão são e salvos.
- VOCÊ vai chegar são e salvo. Bernardo, eu sinto muito, mas não sei escalar árvores.
- Calma, Cris. Você vai conseguir. É fácil. A armadura vai primeiro. - Bernardo jogou a armadura pela janela e ela bateu violentamente em todos os troncos da árvore, antes de chegar ao chão, o que só fez Cristiana pensar que aconteceria o mesmo com ela.
Capítulo 4
Bernardo olhou á sua volta, e ficou mais tranquilo quando constatou que não havia absolutamente ninguém ali por perto.
- Tudo bem, Cristiana, vamos fazer o seguinte. Você fica aqui, e eu vou conferir se os guerreiros ainda estão por aqui.
- Tá bom, que seja. - Cristiana sentou numa pedra e fez uma cara de tédio.
- Ah, e não se esqueça de colocar isso aqui. - Bernardo jogou a armadura ao lado dela.
- Eu mereço.
- Tchau, princesa. Volto logo.
Bernardo parou em frente de onde todo o exército estava. Centenas e centenas de guerreiros comemoravam a vitória na guerra, e ninguém parecia ter sentido a sua falta. Bernardo foi falar com Flávio, o chefe das tropas.
- Vossa Alteza! Que bom ver você vivo, estava ficando tão preocupado! Alteza, peço mil desculpas! Pedi que Frederico fosse procurar você, mas pelo visto, aquele incompetente não teve nenhuma utilidade. Por favor, aceite minhas desculpas, Alteza! - implorou Flávio. Não que ele realmente estivesse preocupado com Bernardo, mas sabia que se algo acontecesse com o príncipe de Whaterford, o rei Paulo Roberto atribuiria a culpa totalmente a ele, o que poderia resultar até em uma execução em praça pública.
- Tudo bem, estás desculpado.
- Onde estavas, afinal?- perguntou Flávio.
- Estava dentro de um castelo em chamas. Deverias ter mais cuidado ao provocar incêndios.
- Prometo que serei mais cuidadoso da próxima vez, Alteza. Mas e quanto a Frederico? Você acha que ele pode ter ficado preso no castelo e..
Bernardo estremeceu por dentro. Mentir não era a atividade favorita dele, mas aquela situação exigia uma boa mentira. Agora que estava decidido a proteger Cristiana, mentir se tornaria uma ação constante em sua vida.
- Sim, Flávio. Receio que Frederico não tenha escapado. Na verdade, foi quase impossível fugir daquele castelo. Acho que Frederico esteja morto agora.
- Oh, não. Vossa Majestade não gostará disso. Pelo menos, Frederico teve uma morte honrada, como todo o guerreiro de Whaterford deve ter.
- É, uma morte bastante honrada.- Bernardo murmurou ironicamente.
- E então, Flávio, quando partimos para Whaterford?
- Hoje mesmo. Só estávamos te aguardando, e agora que estás aqui, podemos ir. Irei organizar as tropas e partiremos agora mesmo. Talvez iremos acampar perto de Murivahe.
- Isso! Perfeito, ótima ideia, acampar perto de Murivahe.
Flávio estranhou um pouco toda essa interesse de Bernardo em acampar nas proximidades daquela cidade,mas resolveu deixar pra lá.
- Se é isso que queres, Alteza, é isso que faremos.
- Excelente. Vou pegar meu cavalo.
Cristiana observou, surpresa, Bernardo retornar com dois cavalos.
- E então, senhor guerreiro, sabe andar à cavalo? - perguntou Bernardo, sorrindo.
- Muito engraçado. - ironizou Cristiana, por dentro daquela armadura desconfortável. - Caso tenha se esquecido, foi você que teve a excelente ideia desse disfarce bobo. Ninguém vai cair nessa, Bernardo.
- Tenho certeza que vão. Mas como eu perguntei, sabe andar à cavalo, não sabe?
- É claro que eu sei. Meu pai me ensinou quando eu tinha oito anos.
- Ótimo! Então é melhor nós irmos.
- Não vai demorar muito, não é, Bernardo? Aqui dentro é um forno. - disse Cristiana, enquanto Bernardo a ajudava a subir no cavalo.
- Fique tranquila, Cris. Murivahe é perto daqui. O exército vai acampar por lá.
- Mas... E quando chegarmos lá? O que vamos fazer?
- Olha, tenho que admitir que não sei bem. Sei que você ficará segura em Murivahe, creio que lá ninguém saiba quem você é. Mas...
Bernardo não terminou sua frase. E Cristiana também não pediu que ele terminasse. Continuaram cavalgando pelo campo verde sem dizer uma palavra. Os dois tinham suas dúvidas sobre tudo o que estava acontecendo.
Bernardo não estava satisfeito em apenas deixar Cristiana a salvo em Murivahe. Ela não conhecia ninguém lá, não tinha ninguém com que pudesse contar, e por mais que ele tentasse, não conseguia deixar de se culpar por ter tirado tudo o que ela tinha. Como deixaria Cristiana sozinha em uma cidade desconhecida e partiria de volta para o seu reino para continuar vivendo sua vida fútil de sempre, naquele castelo que, por mais que fosse lotado de criados, parecia estar sempre monótono e vazio?
Bernardo não sabia o que iria fazer. Algo o prendia à Cristiana, e era algo muito forte. Um sentimento tão intenso como ele nunca havia sentido por ninguém em toda a sua vida.
Capítulo 5
Cristiana olhou para a quantidade absurda de guerreiros espalhados desorganizadamente por metros e metros e deu razão à Bernardo. Ninguém repararia nela.
- Tudo bem, Cris. Vou ficar perto de você o tempo todo. Seja discreta, não fale com ninguém e tente se misturar. Vai dar tudo certo e logo estaremos em Murivahe.
- Tomara que sim.
A viagem, porém, demorou mais do que Cristiana gostaria. Por sorte, a paisagem era bastante agradável, o que compensava pelo menos em parte o imenso desconforto que era usar aquela armadura pesada e desconfortável. Cristiana podia ver quilômetros e mais quilômetros de verde revestindo as várias colinas e montanhas ao longe. Ela nunca havia saído de Bridweell, e olhando para o enorme mundo que ela estava conhecendo pela primeira vez, ela podia sentir uma sensação de liberdade bastante agradável. Se sentia livre e também se sentia segura a cada vez que olhava para Bernardo. Mas é claro que o futuro a trazia muitas incertezas. O que faria depois que estivesse naquela cidade desconhecida?
Provavelmente, Bernardo voltaria para o seu reino e a deixaria em "segurança" em Murivahe. E ela estremecia ao pensar nisso, com medo de nunca mais ver Bernardo novamente. A incomodava o fato de se sentir tão dependente, tão atraída por um estranho que ela conhecera há pouquíssimo tempo. A impressão era de conhecer Bernardo há anos.
Cristiana olhou para o horizonte distante que a aguardava e suspirou. Poderia ser loucura, mas estava sentindo uma coisa muito forte por aquele garoto.
Bernardo observou o caminho e notou que estavam muito perto de Murivahe.
- Flávio, onde o exército irá acampar? - perguntou Bernardo.
- Acho que seria bom se fôssemos adiante mais alguns quilômetros. O sol ainda não se pôs, e se nos apressarmos, ainda amanhã chegaremos a Whaterford.
- É que... Preciso resolver alguns assuntos pendentes em Murivahe. Talvez eu precise dormir lá hoje.
- Ah, eu poderia adivinhar que você iria passar a noite na cidade, sei que Vossa Alteza odeia dormir em barracas. Certamente será mais confortável para o senhor dormir na melhor hospedaria da cidade.
- É, isso. Bem, você pode ir com o exército na frente. Amanhã nos encontramos no caminho, ou talvez em Whaterford.
- Tudo bem, Alteza. Vá sossegado, e cuidado para não se perder no caminho. Aquela floresta que leva á Murivahe é bastante confusa.
- Ora, Flávio, já fui àquela cidade centenas de vezes. Até mais ver, tenho certeza que o exército será recebido com festa por todos os cidadãos de Whaterford.
- Adeus, Alteza.
- Cristiana. - cochichou Bernardo para o "cavaleiro" que estava atrás dele.
- Me siga. Discretamente.
Bernardo e Cristiana se infiltraram em uma floresta escura, sem que ninguém notasse. Finalmente estavam longe daquele enorme grupo de guerreiros vitoriosos.
Capítulo 6
- Ah, graças a Deus. - disse Cristiana, um pouco aliviada. - Ninguém reparou em mim. Esse disfarce, por mais espúrio que seja, conseguiu enganar todo mundo. Agora posso tirar isso, não posso?
- Pode. Mas quando estivermos perto de Murivahe terá que colocar de novo.
- Nunca odiei tanto assim uma armadura decorativa.
Cristiana desceu do seu cavalo para tirar a armadura, e Bernardo desceu também para ajudá-la.
- Ah, nada como o alívio de não estar com quilos e mais quilos de ferro em cima de mim. - disse Cristiana,colocando a armadura em cima do cavalo e em seguida, tentando desamarrotar seu vestido.
- Me impressiona o fato de que mesmo estando por horas com quilos e mais quilos de ferro em cima de você, você ainda continue tão linda.
Cristiana olhou pro chão, vermelha. Bernardo notou o quanto ela havia ficado sem jeito e não conseguiu deixar de rir.
- Desculpe. Não quis deixar você constrangida. - disse Bernardo, sorrindo.
- Er... É melhor nós irmos logo... antes que... anoiteça. - desconversou ela, passando nervosamente a mão nos longos cabelos castanho-avermelhados.
- Acho melhor pararmos para comer alguma coisa. – disse Bernardo.
- Tudo bem – concordou Cristiana – Bom menino, Charlie, fique quietinho aqui.
- Deu nome ao seu cavalo?
- Claro. O seu não tem nome?
- Tem sim. O nome dele é Cavalo.
- Muito criativo da sua parte. – Retrucou Cristiana, e os dois riram. Enquanto lanchavam e conversavam, por um momento tudo pareceu ser apenas um piquenique agradável pela floresta, e não a fuga da princesa de Bridweell que deveria estar morta.
- Belo colar. – disse Bernardo, prestando atenção pela primeira vez no pingente vermelho que brilhava incessantemente no pescoço de Cristiana.
- Obrigada. É o meu preferido. Raramente eu o tiro do pescoço. – Cristiana olhou para a pedra vermelha cuidadosamente lapidada e sorriu quando o sol refletiu nela, espalhando pontinhos brilhosos á sua volta. – Meus pais me deram de presente quando eu tinha 10 anos.
- Seus pais têm bom gosto. – Bernardo falou, e desviou seu olhar de Cristiana quando percebeu que sua frase estava errada. Eles TINHAM bom gosto, porque estavam mortos e seus corpos deveriam estar pegando fogo dentro de um castelo destruído. Embora a culpa não fosse totalmente dele, ele se sentia total e completamente responsável por isso.
Cristiana olhou para Bernardo e conseguiu de alguma forma, adivinhar no que ele estava pensando. Ela quis dizer algo, mas o que quer que dissesse pareceria tolice. Então preferiu esperar que Bernardo falasse.
- Eu estraguei sua vida, Cristiana. Tirei tudo o que você tinha, e...
- Bernardo. – Cristiana interrompeu – Nada disso é culpa sua.
- Claro que é, Cristiana! – discordou ele, irritado. – Seu pai nunca contou pra você porque essa guerra começou?
- Meu pai nunca quis que eu me metesse nos “assuntos dele”. Perguntei isso pra ele por anos, mas ele nunca me respondeu.
- Então vou te responder o mistério. Há muito tempo, Bridweell e Whaterford tinham uma rivalidade, mas nada demais. Essa guerra só começou porque quando eu tinha 11 anos... – Bernardo parou um segundo para reorganizar suas idéias, e continuou. – Minha infância não foi nada divertida, Cristiana. Meu pai cobrava muito de mim, e eu odiava a minha vida. Então aos 11 anos eu resolvi fugir do castelo. Simplesmente fui embora, sem saber pra onde eu iria.
- E onde você ficou? – perguntou Cristiana, interessada pela história.
- Depois de várias horas perdido em uma floresta bem extensa que ficava próxima ao castelo, um casal de camponeses me encontrou. Mas isso não é o importante. Meu pai notou o meu desaparecimento e achou que eu tinha sido raptado. Então, sem nenhuma prova, acusou seu pai de ter me seqüestrado, invadiu o seu reino, matou pessoas inocentes e declarou guerra à Bridweell. Três dias depois, os dois camponeses descobriram quem eu era e me levaram de volta ao castelo. Meu pai viu que havia cometido um erro, mas a guerra já estava declarada. A partir daí, a rivalidade entre os dois reinos foi ficando mais forte, e com objetivos econômicos também.
- Uau. Desde os 10 anos de idade, vejo essa guerra acontecer sem saber o motivo. Obrigada por me dizer a verdade.
- Obrigada? – irritou-se Bernardo – Em que mundo você está, Cristiana? Acabo de dizer que sou o responsável por uma guerra que durou sete anos e você diz “obrigada”? Cristiana, se não fosse por mim, você estaria feliz no seu reino, com os seus pais, e não teria que passar por nada disso!
- Ou talvez não. – ela sorriu. – Talvez eu estivesse no meu reino, com os meus pais, me preparando para um casamento que eu não queria, destinada a ser infeliz para sempre com um homem desprezível e interesseiro.
- Como é?
- Eu estava com meu casamento marcado. Acredite ou não, existem pontos positivos em tudo isso que aconteceu.
- Não há o menor motivo para você se culpar por isso, Bernardo. – continuou Cristiana. – Você era só uma criança quando essa guerra começou e não fazia ideia que.... – Cristiana foi interrompida por um trovão que cortou o céu fazendo um barulho estrondoso. Os cavalos de Cristiana e Bernardo relincharam simultaneamente, assustados com o barulho repentino, e correram furiosamente até desaparecerem no horizonte.
- Charlie! Volte aqui!
- Algo me diz que seu cavalo não vai te obedecer. – riu Bernardo.
- Droga. – resmungou Cristiana. – Agora vamos demorar muito mais para chegar a Murivahe. E vai ser bem mais cansativo.
- É, sem dúvida, esses cavalos nos deixaram na mão em uma hora muito inapropriada.
- Põe inapropriada nisso. Acha que ainda conseguiremos chegar lá hoje?
- Talvez, mas seria quase de madrugada.
- Ah, que maravilha. Ficar andando por essa floresta durante a noite inteira. Isso vai ser divertido – ironizou Cristina.
E de fato, a situação ficou ainda mais “divertida” quando a chuva começou a cair torrencialmente e Bernardo e Cristiana tiveram de caminhar por uma floresta confusa, completamente ensopados.
- Chega, eu desisto de levar esse trambolho – disse Bernardo, jogando a armadura no chão.
Cristiana riu, vitoriosa:
– Bem que eu avisei que essa coisa é super pesada. Deixe-a aí, não vai fazer nenhuma falta, mesmo.
- Tomara que não.
- Olha, eu não quero ser inconveniente, ou pessimista, mas não sei como vamos ficar andando em uma floresta escura e cheia de bichos. Por enquanto, ainda não escureceu totalmente e está tudo bem, mas daqui a pouco vai estar muito escuro, e...
- Não se preocupe, princesa. Não esqueça que você está na minha companhia, então nada poderia dar errado.
- Ah, sei. Muito modesto.
- Ser modesto é só mais uma das minhas qualidades. – brincou Bernardo. – Perdi as contas de quantas vezes viajei para Murivahe por esta floresta. Na maioria das vezes, vim com meu pai. Ele e o rei de Murivahe são amigos há muitos anos, e todas as vezes que meu pai vem pra cá, insiste em me trazer junto. Na maioria dessas viagens, ficávamos andando por essa floresta durante toda a noite, e por não enxergar quase nada no escuro, acabávamos no perdendo. Até que meu pai teve a brilhante ideia de construir uma casa no meio da floresta, para evitar essas situações como essa. – Bernardo se deteve em frente á uma pequena casa de pedra, escondida em meio ás árvores.
- Pode. Mas quando estivermos perto de Murivahe terá que colocar de novo.
- Nunca odiei tanto assim uma armadura decorativa.
Cristiana desceu do seu cavalo para tirar a armadura, e Bernardo desceu também para ajudá-la.
- Ah, nada como o alívio de não estar com quilos e mais quilos de ferro em cima de mim. - disse Cristiana,colocando a armadura em cima do cavalo e em seguida, tentando desamarrotar seu vestido.
- Me impressiona o fato de que mesmo estando por horas com quilos e mais quilos de ferro em cima de você, você ainda continue tão linda.
Cristiana olhou pro chão, vermelha. Bernardo notou o quanto ela havia ficado sem jeito e não conseguiu deixar de rir.
- Desculpe. Não quis deixar você constrangida. - disse Bernardo, sorrindo.
- Er... É melhor nós irmos logo... antes que... anoiteça. - desconversou ela, passando nervosamente a mão nos longos cabelos castanho-avermelhados.
- Acho melhor pararmos para comer alguma coisa. – disse Bernardo.
- Tudo bem – concordou Cristiana – Bom menino, Charlie, fique quietinho aqui.
- Deu nome ao seu cavalo?
- Claro. O seu não tem nome?
- Tem sim. O nome dele é Cavalo.
- Muito criativo da sua parte. – Retrucou Cristiana, e os dois riram. Enquanto lanchavam e conversavam, por um momento tudo pareceu ser apenas um piquenique agradável pela floresta, e não a fuga da princesa de Bridweell que deveria estar morta.
- Belo colar. – disse Bernardo, prestando atenção pela primeira vez no pingente vermelho que brilhava incessantemente no pescoço de Cristiana.
- Obrigada. É o meu preferido. Raramente eu o tiro do pescoço. – Cristiana olhou para a pedra vermelha cuidadosamente lapidada e sorriu quando o sol refletiu nela, espalhando pontinhos brilhosos á sua volta. – Meus pais me deram de presente quando eu tinha 10 anos.
- Seus pais têm bom gosto. – Bernardo falou, e desviou seu olhar de Cristiana quando percebeu que sua frase estava errada. Eles TINHAM bom gosto, porque estavam mortos e seus corpos deveriam estar pegando fogo dentro de um castelo destruído. Embora a culpa não fosse totalmente dele, ele se sentia total e completamente responsável por isso.
Cristiana olhou para Bernardo e conseguiu de alguma forma, adivinhar no que ele estava pensando. Ela quis dizer algo, mas o que quer que dissesse pareceria tolice. Então preferiu esperar que Bernardo falasse.
- Eu estraguei sua vida, Cristiana. Tirei tudo o que você tinha, e...
- Bernardo. – Cristiana interrompeu – Nada disso é culpa sua.
- Claro que é, Cristiana! – discordou ele, irritado. – Seu pai nunca contou pra você porque essa guerra começou?
- Meu pai nunca quis que eu me metesse nos “assuntos dele”. Perguntei isso pra ele por anos, mas ele nunca me respondeu.
- Então vou te responder o mistério. Há muito tempo, Bridweell e Whaterford tinham uma rivalidade, mas nada demais. Essa guerra só começou porque quando eu tinha 11 anos... – Bernardo parou um segundo para reorganizar suas idéias, e continuou. – Minha infância não foi nada divertida, Cristiana. Meu pai cobrava muito de mim, e eu odiava a minha vida. Então aos 11 anos eu resolvi fugir do castelo. Simplesmente fui embora, sem saber pra onde eu iria.
- E onde você ficou? – perguntou Cristiana, interessada pela história.
- Depois de várias horas perdido em uma floresta bem extensa que ficava próxima ao castelo, um casal de camponeses me encontrou. Mas isso não é o importante. Meu pai notou o meu desaparecimento e achou que eu tinha sido raptado. Então, sem nenhuma prova, acusou seu pai de ter me seqüestrado, invadiu o seu reino, matou pessoas inocentes e declarou guerra à Bridweell. Três dias depois, os dois camponeses descobriram quem eu era e me levaram de volta ao castelo. Meu pai viu que havia cometido um erro, mas a guerra já estava declarada. A partir daí, a rivalidade entre os dois reinos foi ficando mais forte, e com objetivos econômicos também.
- Uau. Desde os 10 anos de idade, vejo essa guerra acontecer sem saber o motivo. Obrigada por me dizer a verdade.
- Obrigada? – irritou-se Bernardo – Em que mundo você está, Cristiana? Acabo de dizer que sou o responsável por uma guerra que durou sete anos e você diz “obrigada”? Cristiana, se não fosse por mim, você estaria feliz no seu reino, com os seus pais, e não teria que passar por nada disso!
- Ou talvez não. – ela sorriu. – Talvez eu estivesse no meu reino, com os meus pais, me preparando para um casamento que eu não queria, destinada a ser infeliz para sempre com um homem desprezível e interesseiro.
- Como é?
- Eu estava com meu casamento marcado. Acredite ou não, existem pontos positivos em tudo isso que aconteceu.
- Não há o menor motivo para você se culpar por isso, Bernardo. – continuou Cristiana. – Você era só uma criança quando essa guerra começou e não fazia ideia que.... – Cristiana foi interrompida por um trovão que cortou o céu fazendo um barulho estrondoso. Os cavalos de Cristiana e Bernardo relincharam simultaneamente, assustados com o barulho repentino, e correram furiosamente até desaparecerem no horizonte.
- Charlie! Volte aqui!
- Algo me diz que seu cavalo não vai te obedecer. – riu Bernardo.
- Droga. – resmungou Cristiana. – Agora vamos demorar muito mais para chegar a Murivahe. E vai ser bem mais cansativo.
- É, sem dúvida, esses cavalos nos deixaram na mão em uma hora muito inapropriada.
- Põe inapropriada nisso. Acha que ainda conseguiremos chegar lá hoje?
- Talvez, mas seria quase de madrugada.
- Ah, que maravilha. Ficar andando por essa floresta durante a noite inteira. Isso vai ser divertido – ironizou Cristina.
E de fato, a situação ficou ainda mais “divertida” quando a chuva começou a cair torrencialmente e Bernardo e Cristiana tiveram de caminhar por uma floresta confusa, completamente ensopados.
- Chega, eu desisto de levar esse trambolho – disse Bernardo, jogando a armadura no chão.
Cristiana riu, vitoriosa:
– Bem que eu avisei que essa coisa é super pesada. Deixe-a aí, não vai fazer nenhuma falta, mesmo.
- Tomara que não.
- Olha, eu não quero ser inconveniente, ou pessimista, mas não sei como vamos ficar andando em uma floresta escura e cheia de bichos. Por enquanto, ainda não escureceu totalmente e está tudo bem, mas daqui a pouco vai estar muito escuro, e...
- Não se preocupe, princesa. Não esqueça que você está na minha companhia, então nada poderia dar errado.
- Ah, sei. Muito modesto.
- Ser modesto é só mais uma das minhas qualidades. – brincou Bernardo. – Perdi as contas de quantas vezes viajei para Murivahe por esta floresta. Na maioria das vezes, vim com meu pai. Ele e o rei de Murivahe são amigos há muitos anos, e todas as vezes que meu pai vem pra cá, insiste em me trazer junto. Na maioria dessas viagens, ficávamos andando por essa floresta durante toda a noite, e por não enxergar quase nada no escuro, acabávamos no perdendo. Até que meu pai teve a brilhante ideia de construir uma casa no meio da floresta, para evitar essas situações como essa. – Bernardo se deteve em frente á uma pequena casa de pedra, escondida em meio ás árvores.
Capítulo 6
Cristiana olhou para a construção, surpresa.
- Porque você não disse isso antes, seu bobo?
- Porque não iria ter graça nenhuma. Estava esperando pelo momento em que você iria ficar em pânico, mas, ao contrário do que parece, você não é muito desesperada.
Cristiana franziu uma sobrancelha, em dúvida se consideraria aquilo como um elogio ou não.
- Obrigada... eu acho.
- Vamos entrar logo. – Bernardo abriu a pesada porta de ferro, revelando um ambiente pequeno e empoeirado, mas, no entanto, de muito bom gosto. Uma bonita tapeçaria vermelha cobria o chão, e duas poltronas se situavam em frente à uma lareira.
- Fique à vontade, Cristiana. – disse Bernardo, sorrindo para ela.
- Já estou. – respondeu, sem hesitar.
Ter um lugar quente e confortável para passar a noite foi um grande alívio para Bernardo e Cristiana. A casa, no entanto, não era assim tão pequena. Haviam, além de uma cozinha, três quartos com um banheiro privativo em todos. Cristiana se sentiu em casa ao olhar a banheira maravilhosa que estava no seu quarto.
- Preciso de um banho - disse Cristiana, que já estava completamente molhada por causa da chuva.
- É, eu também. – disse Bernardo, que não estava de jeito nenhum menos molhado que ela.
- E adivinha só quem vai encher minha banheira?
- Sobrou pra mim, é claro. Resolvo isso num instante.
Isso seria resolvido num instante se naquela época houvesse água encanada e quente à disposição, mas ao invés disso Bernardo teve que recorrer ao poço que havia no quintal da casa.
Depois de tomar um banho revigorante, Bernardo estava finalmente seco e aquecido, e enquanto acendia a lareira, ele pensou no quanto Cristiana estava demorando a aparecer. Talvez já estivesse dormindo. Na verdade, Bernardo estava preocupado com o que aconteceria pela manhã. Provavelmente, chegariam à Murivahe, e lá teriam que se separar definitivamente. É claro que ele não deixaria Cristiana assim, sem mais nem menos, em uma cidade estranha. A ideia de levá-la para morar com ele em Whaterford era insistente, mas Bernardo sabia que os riscos disso para Cristiana eram muitos. Se seu pai, sua mãe ou qualquer pessoa desconfiasse que ela era a filha do rei de Bridweell, com certeza mandariam matá-la.
Talvez fosse mesmo mais seguro para ela se ela ficasse em Murivahe, e Bernardo providenciaria tudo para que ela vivesse lá em excelentes condições. Talvez essa fosse a melhor solução, mas Bernardo não estava feliz com isso. O pouco tempo que ficaram juntos foi o suficiente para que Cristiana cativasse Bernardo de uma forma muito grandiosa, e a ideia de se separar dela era atormentadora.
Bernardo se aproximou do quarto de Cristiana, e bateu na porta uma vez. Como não obteve resposta, abriu, e não havia ninguém no quarto. Só uma melodia linda, baixa e doce que o encantou completamente. Vinha do banheiro do quarto, e era a voz de Cristiana, que cantava enquanto tomava banho, envolta pela espuma da banheira. O fato de a porta estar trancada e os pingos de chuva baterem contra o telhado sonoramente não impediu que Bernardo escutasse perfeitamente por trás da porta aquela voz suave e ritmada, quase sussurrante. A voz dela e letra da música fizeram com que os batimentos do coração dele se acelerassem. Era a voz mais linda que ele já havia ouvido em toda a sua vida.
“Estava esperando há tanto tempo
Pela chegada de um milagre
Todos me disseram para ser forte
E não derramar uma só lágrima
Nas dificuldades e nos bons momentos
Eu sabia que ia conseguir
O mundo achava que eu tinha tudo
Mas eu estava esperando por você
Deixe a chuva cair e lavar minhas lágrimas
Deixe-a encher minha alma afogar meus medos
Deixe-a derrubar as paredes para o novo sol entrar
Um novo dia chegou
Onde havia escuridão há luz
Onde havia dor agora há alegria
Onde havia fraqueza, eu encontrei minha força
Tudo nos olhos de um garoto”
Capítulo 7
Bernardo sorriu para Cristiana quando ela finalmente saiu do quarto e sentou ao lado dele, em frente a lareira.
Ficaram alguns segundos em silêncio, até que Bernado comentou:
- Quer dizer que temos uma cantora hiper talentosa nesta casa?
Cristiana olhou para Bernardo um pouco constrangida.
- Não temos não.
- Não adianta negar, Cristiana. Eu ouvi você cantando.
- Pois não devia.
Bernardo riu.
- Não precisa ser modesta. Sua voz é incrível. Onde aprendeu a cantar assim?
- Bem, tive alguns professores de canto em Bridweell. Minha mãe exigia que eu aprendesse mil coisas, desde pequena.
- Como o quê, por exemplo?
- Bem, eu canto, toco três instrumentos diferentes, costuro e bordo, falo fluentemente cinco idiomas, e pinto quadros. Eu precisava fazer alguma coisa pra passar o tempo e tentar amenizar meu tédio.
Os dois riram brevemente, e depois ficaram novamente em silêncio, apenas olhando um pro outro.
- Fugir daquele castelo em chamas com você foi a coisa mais emocionante que eu já fiz em toda a minha vida.
- É, acredite ou não, estou adorando tudo isso. Mas amanhã chegamos à Murivahe. - Bernardo pronunciou essa última frase tristemente.
Cristiana olhou para o fogo da lareira, compartilhando o mesmo sentimento de Bernardo, e perguntou timidamente:
- E o que vai acontecer depois?
Bernardo pensou bastante antes de responder a pergunta.
- O certo a fazer... seria deixar você em algum lugar seguro e confortável por lá, e então nós nos separaríamos. Mas... Cristiana...
Ele precisou fazer uma pausa e respirar fundo antes de continuar.
- Talvez eu esteja sendo egoísta, mas não posso me separar de você. Não posso deixar você, e eu sei que se eu fizesse isso minha vida jamais seria completa. Você é tudo o que eu preciso agora, Cristiana. Eu te amo como nunca imaginei que pudesse amar alguém, e não vou te perder.
Bernardo beijou Cristiana apaixonadamente, e eles tiveram certeza de estar vivendo o momento mais maravilhoso de suas vidas.
Tanto Bernardo e Cristiana tinham uma noção bastante nítida de que aquela noite especial mudaria as vidas deles para sempre. E foi exatamente isto o que aconteceu. A confusão de sentimentos que antes sentiam um pelo outro desapareceu repentinamente. Naquela noite, tudo ficou completamente claro para eles. Estavam completamente apaixonados, e todo o resto parecia não ter nenhuma importância. Mas agora, a situação estava diferente. Nenhum dos dois podia pensar na possibilidade de uma separação. Mas como fariam para ficarem juntos em paz ? O rei de Whaterford seria bem capaz de mandar matar Cristiana e até o próprio filho, se soubesse que ele estivesse protegendo-a, apesar de ter prometido que mataria todos os cidadãos de Bridweell, sem exceção.
Quando o dia estava quase amanhecendo, Bernardo e Cristiana tiveram que começar a pensar nas decisões que tomariam dali em diante. Finalmente, depois de conversarem bastante sobre isso e não encontrarem nenhuma boa solução, Bernardo disse:
- Há uma coisa que talvez possamos fazer, mas...
- O quê?- perguntou Cristiana, ansiosa.
- Cristiana, o que eu mais quero é que você venha morar comigo, no meu castelo em Whaterford...
- Bernardo, não há a menor possibilidade de isso acontecer. Você chega comigo no seu castelo, e o quê vai dizer pro seu pai? Ele iria matar nós dois se soubesse que eu sou a filha do rei de Bridweell, a menos que... – Cristiana fez uma pausa e começou a entender o plano de Bernardo. – A menos que ele não fizesse ideia de que eu sou a filha do rei de Bridweell.
- Exatamente! Tudo o que precisamos fazer é inventar uma boa história para que ele jamais saiba quem você é. E, infelizmente, só um modo de você morar naquele castelo comigo sem que o meu pai comece a investigar a sua vida.
Quando o sol finalmente brilhou no horizonte, Bernardo e Cristiana já tinham certeza do que iriam fazer, e estavam confiantes de que aquilo iria dar certo.
Bernardo e Cristiana demoraram um pouco para chegar á Murivahe. Como haviam perdido seus cavalos, tiveram que chegar lá caminhando, e além disso, eles paravam a cada segundo.
No meio da floresta densa, Bernardo parou de caminhar e se colocou na frente de Cristiana, envolveu a cintura dela com os braços e a beijou demoradamente. Pela centésima vez naquele dia.
- Bernardo! – ela fingiu reclamar, sorrindo. – Desse jeito, não vamos chegar nunca.
- Exatamente. Enquanto estivermos em Murivahe, ninguém vai poder saber que estamos juntos. Temos que aproveitar enquanto não estamos lá.
- É, acho que você tem razão. Não seria ótimo se este momento durasse para sempre? – Ela não deixou Bernardo responder, e o beijou novamente.
Finalmente conseguiram chegar á Murivahe, e quando Bernardo comprou dois cavalos, o vendedor quis saber quem era aquela garota com ele.
- Ah, é só uma escrava. – respondeu Bernardo, tentando parecer natural. Aquela seria a desculpa que eles usariam dali para frente. A partir daquele momento, Cristiana se tornaria, pelo menos em uma mentira, uma escrava nascida em Murivahe. Nada mais. E aquilo, por mais que Cristiana tentasse evitar, a incomodava um pouco. Às vezes, seu ego de princesa falava mais alto, mas ela tentou controlá-lo ao máximo. Para ficar com Bernardo, havia decidido fazer qualquer coisa.
Ficaram alguns segundos em silêncio, até que Bernado comentou:
- Quer dizer que temos uma cantora hiper talentosa nesta casa?
Cristiana olhou para Bernardo um pouco constrangida.
- Não temos não.
- Não adianta negar, Cristiana. Eu ouvi você cantando.
- Pois não devia.
Bernardo riu.
- Não precisa ser modesta. Sua voz é incrível. Onde aprendeu a cantar assim?
- Bem, tive alguns professores de canto em Bridweell. Minha mãe exigia que eu aprendesse mil coisas, desde pequena.
- Como o quê, por exemplo?
- Bem, eu canto, toco três instrumentos diferentes, costuro e bordo, falo fluentemente cinco idiomas, e pinto quadros. Eu precisava fazer alguma coisa pra passar o tempo e tentar amenizar meu tédio.
Os dois riram brevemente, e depois ficaram novamente em silêncio, apenas olhando um pro outro.
- Fugir daquele castelo em chamas com você foi a coisa mais emocionante que eu já fiz em toda a minha vida.
- É, acredite ou não, estou adorando tudo isso. Mas amanhã chegamos à Murivahe. - Bernardo pronunciou essa última frase tristemente.
Cristiana olhou para o fogo da lareira, compartilhando o mesmo sentimento de Bernardo, e perguntou timidamente:
- E o que vai acontecer depois?
Bernardo pensou bastante antes de responder a pergunta.
- O certo a fazer... seria deixar você em algum lugar seguro e confortável por lá, e então nós nos separaríamos. Mas... Cristiana...
Ele precisou fazer uma pausa e respirar fundo antes de continuar.
- Talvez eu esteja sendo egoísta, mas não posso me separar de você. Não posso deixar você, e eu sei que se eu fizesse isso minha vida jamais seria completa. Você é tudo o que eu preciso agora, Cristiana. Eu te amo como nunca imaginei que pudesse amar alguém, e não vou te perder.
Bernardo beijou Cristiana apaixonadamente, e eles tiveram certeza de estar vivendo o momento mais maravilhoso de suas vidas.
Tanto Bernardo e Cristiana tinham uma noção bastante nítida de que aquela noite especial mudaria as vidas deles para sempre. E foi exatamente isto o que aconteceu. A confusão de sentimentos que antes sentiam um pelo outro desapareceu repentinamente. Naquela noite, tudo ficou completamente claro para eles. Estavam completamente apaixonados, e todo o resto parecia não ter nenhuma importância. Mas agora, a situação estava diferente. Nenhum dos dois podia pensar na possibilidade de uma separação. Mas como fariam para ficarem juntos em paz ? O rei de Whaterford seria bem capaz de mandar matar Cristiana e até o próprio filho, se soubesse que ele estivesse protegendo-a, apesar de ter prometido que mataria todos os cidadãos de Bridweell, sem exceção.
Quando o dia estava quase amanhecendo, Bernardo e Cristiana tiveram que começar a pensar nas decisões que tomariam dali em diante. Finalmente, depois de conversarem bastante sobre isso e não encontrarem nenhuma boa solução, Bernardo disse:
- Há uma coisa que talvez possamos fazer, mas...
- O quê?- perguntou Cristiana, ansiosa.
- Cristiana, o que eu mais quero é que você venha morar comigo, no meu castelo em Whaterford...
- Bernardo, não há a menor possibilidade de isso acontecer. Você chega comigo no seu castelo, e o quê vai dizer pro seu pai? Ele iria matar nós dois se soubesse que eu sou a filha do rei de Bridweell, a menos que... – Cristiana fez uma pausa e começou a entender o plano de Bernardo. – A menos que ele não fizesse ideia de que eu sou a filha do rei de Bridweell.
- Exatamente! Tudo o que precisamos fazer é inventar uma boa história para que ele jamais saiba quem você é. E, infelizmente, só um modo de você morar naquele castelo comigo sem que o meu pai comece a investigar a sua vida.
Quando o sol finalmente brilhou no horizonte, Bernardo e Cristiana já tinham certeza do que iriam fazer, e estavam confiantes de que aquilo iria dar certo.
Bernardo e Cristiana demoraram um pouco para chegar á Murivahe. Como haviam perdido seus cavalos, tiveram que chegar lá caminhando, e além disso, eles paravam a cada segundo.
No meio da floresta densa, Bernardo parou de caminhar e se colocou na frente de Cristiana, envolveu a cintura dela com os braços e a beijou demoradamente. Pela centésima vez naquele dia.
- Bernardo! – ela fingiu reclamar, sorrindo. – Desse jeito, não vamos chegar nunca.
- Exatamente. Enquanto estivermos em Murivahe, ninguém vai poder saber que estamos juntos. Temos que aproveitar enquanto não estamos lá.
- É, acho que você tem razão. Não seria ótimo se este momento durasse para sempre? – Ela não deixou Bernardo responder, e o beijou novamente.
Finalmente conseguiram chegar á Murivahe, e quando Bernardo comprou dois cavalos, o vendedor quis saber quem era aquela garota com ele.
- Ah, é só uma escrava. – respondeu Bernardo, tentando parecer natural. Aquela seria a desculpa que eles usariam dali para frente. A partir daquele momento, Cristiana se tornaria, pelo menos em uma mentira, uma escrava nascida em Murivahe. Nada mais. E aquilo, por mais que Cristiana tentasse evitar, a incomodava um pouco. Às vezes, seu ego de princesa falava mais alto, mas ela tentou controlá-lo ao máximo. Para ficar com Bernardo, havia decidido fazer qualquer coisa.
Capítulo 8
Depois que foi intutulada escrava, Cristiana pareceu ficar invisível. Ninguém pareceu prestar a menor atenção nela enquanto andavam pela cidade. E o objetivo deles naquela cidade era apenas esse: comprar os cavalos, parar para comer em algum lugar, e em seguida, seguir para Whaterford.
Quando eles saíram daquela cidade e pegaram o caminho para Whaterford, se sentiram, de certo modo, aliviados. Cristiana e Bernardo galopavam por uma trilha cercada de árvores, quando Bernardo perguntou:
- Algo errado, Cris?
- Não. Por que estaria? – disse ela, rapidamente, e desconversou com outra pergunta. - Quando tempo vai demorar para chegarmos?
- Hoje á noite chegamos. Mas não fuja do assunto. Por mais que estejamos juntos há pouco tempo, conheço você perfeitamente. Sei que está meio chateada com essa mentira que resolvemos inventar. E tem toda a razão, Cristiana. Você é uma princesa linda, é ridículo eu fazer você bancar a escrava. Olha, se você quiser, podemos esquecer isso e arrumamos um outro jeito...
- Não, Bernardo, de jeito nenhum. Desculpe-me, mas é que... as vezes... eu sou meio orgulhosa. Eu cresci cercada de mimos, e talvez por isso, ouvir você me chamar de escrava é... estranho. Desconfortável. Mas para ficar com você, faço o que for preciso. Inclusive me transformar em uma escrava do dia para a noite. Por mais que não combine com o meu perfil. – ela riu, e olhou para Bernardo com afeto.
Bernardo sorriu também e completou:
- Você sabe que eu é que sou o seu escravo, não sabe? E você sempre será minha princesa, não importa que aconteça. Vai dar tudo certo, meu amor. E essa mentira não vai ser para sempre. Prometo.
As primeiras estrelas despontaram no céu, e foi nesse instante que Bernardo e Cristiana entraram na cidade de Whaterford. Cristiana sentiu um frio na barriga ao avistar o enorme castelo no horizonte. Ele ficava um pouco isolado, a uma agradável distância da cidade agitada, e fora construído em cima de uma grande colina. As estrelas e a luz do luar brilhavam sobre aquela belíssima construção, formando uma paisagem incrível. Bernardo e Cristiana passaram pelo enorme portão de ferro, e os guardas do castelo acenaram para Bernardo, sorridentes. Todos pareciam muito felizes pela conquista de Bridweell.
Antes de entrar no castelo, Bernardo e Cristiana guardaram os cavalos na estrebaria que ficava nos fundos do castelo.
- Acho que estou meio nervosa. – comentou Cristiana.
Bernardo sorriu e pegou o rosto dela delicadamente, fazendo-a olhar bem nos olhos dele.
- Nada vai dar errado. Você é a maior preciosidade que tenho, Cris. Não vou deixar que nada de mal aconteça. – Ele beijou Cristiana apaixonadamente, e naquele momento, todas as preocupações e todos os medos pareceram completamente sem importância.
- Então, vamos nessa. – disse Cristiana sorrindo, e agora não sentia mais nenhum medo ou preocupação.
Quando eles saíram daquela cidade e pegaram o caminho para Whaterford, se sentiram, de certo modo, aliviados. Cristiana e Bernardo galopavam por uma trilha cercada de árvores, quando Bernardo perguntou:
- Algo errado, Cris?
- Não. Por que estaria? – disse ela, rapidamente, e desconversou com outra pergunta. - Quando tempo vai demorar para chegarmos?
- Hoje á noite chegamos. Mas não fuja do assunto. Por mais que estejamos juntos há pouco tempo, conheço você perfeitamente. Sei que está meio chateada com essa mentira que resolvemos inventar. E tem toda a razão, Cristiana. Você é uma princesa linda, é ridículo eu fazer você bancar a escrava. Olha, se você quiser, podemos esquecer isso e arrumamos um outro jeito...
- Não, Bernardo, de jeito nenhum. Desculpe-me, mas é que... as vezes... eu sou meio orgulhosa. Eu cresci cercada de mimos, e talvez por isso, ouvir você me chamar de escrava é... estranho. Desconfortável. Mas para ficar com você, faço o que for preciso. Inclusive me transformar em uma escrava do dia para a noite. Por mais que não combine com o meu perfil. – ela riu, e olhou para Bernardo com afeto.
Bernardo sorriu também e completou:
- Você sabe que eu é que sou o seu escravo, não sabe? E você sempre será minha princesa, não importa que aconteça. Vai dar tudo certo, meu amor. E essa mentira não vai ser para sempre. Prometo.
As primeiras estrelas despontaram no céu, e foi nesse instante que Bernardo e Cristiana entraram na cidade de Whaterford. Cristiana sentiu um frio na barriga ao avistar o enorme castelo no horizonte. Ele ficava um pouco isolado, a uma agradável distância da cidade agitada, e fora construído em cima de uma grande colina. As estrelas e a luz do luar brilhavam sobre aquela belíssima construção, formando uma paisagem incrível. Bernardo e Cristiana passaram pelo enorme portão de ferro, e os guardas do castelo acenaram para Bernardo, sorridentes. Todos pareciam muito felizes pela conquista de Bridweell.
Antes de entrar no castelo, Bernardo e Cristiana guardaram os cavalos na estrebaria que ficava nos fundos do castelo.
- Acho que estou meio nervosa. – comentou Cristiana.
Bernardo sorriu e pegou o rosto dela delicadamente, fazendo-a olhar bem nos olhos dele.
- Nada vai dar errado. Você é a maior preciosidade que tenho, Cris. Não vou deixar que nada de mal aconteça. – Ele beijou Cristiana apaixonadamente, e naquele momento, todas as preocupações e todos os medos pareceram completamente sem importância.
- Então, vamos nessa. – disse Cristiana sorrindo, e agora não sentia mais nenhum medo ou preocupação.